sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dublin: a crise na Irlanda com um toque português





Levado pela ironia do destino que possibilitou uma final entre F.C. Porto e Sp. Braga na Arena de Dublin, o Maisfutebol procurou fazer um ligeiro retrato sobre o cenário de crise económica partilhado por República da Irlanda e Portugal.

Na capital irlandesa, a crise pode até ser resumida com a história de um hotel de luxo desenhado por arquitectos lusos. Seria a bandeira da zona rica de Dublin, no Grand Canal, a um quilómetro do estádio, e estaria concluído até final de 2008. Continua por abrir.

A empresa Aires Mateus & Associados ganhou o concurso para este hotel de cinco estrelas, projectando um espaço inspirado nas formações rochosas da República da Irlanda. O nosso jornal contactou a dupla de arquitectos, procurando esclarecimentos, mas não obteve resposta.

Quando a ideia surgiu, o país nadava literalmente em dinheiro e Dublin pretendia revitalizar as suas docas, transformando-as em algo similar à zona da Expo em Lisboa.

Na visita ao vistoso The Grand Canal Hotel and Residences, o Maisfutebol encontrou, por outro lado, um projecto à imagem do Edifício Transparente no Porto, aproveitado após largos anos de inutilização. O esqueleto está lá mas ninguém quer assumir o futuro.

«Foi sobretudo uma bolha imobiliária»

«O que aconteceu na Irlanda foi sobretudo uma bolha imobiliária. Entrava dinheiro, muito dinheiro, ao contrário do que acontece em Portugal, onde a crise tem a ver com problemas orçamentais e falta de receitas. Aqui tínhamos dinheiro mas encaminhámos tudo para os imóveis», explica o luso-irlandês Antonio Mantero.

Antonio Mantero conhece perfeitamente esta realidade. Aliás, foi uma das vítimas: «Eu trabalhava com um grande proprietário de imóveis. Perdi o emprego em Novembro. Mas eu só perdi o emprego. Ele, que tinha tudo, está completamente arruinado.»

Segundo o luso-irlandês, a crise explica-se em poucas palavras. A Irlanda enriqueceu e apostou nos imóveis. De repente, todos construíam e todos compravam. Os bancos emprestavam dinheiro com juros baixos, apostando no fenómeno. Quando os efeitos da recessão mundial se fizeram sentir, tudo ruiu como um baralho de cartas. Os proprietários perderam interessados, deixaram de pagar os créditos e os bancos ficaram com casas que de nada lhes servem.

«A vinda do FMI fez-nos perceber a gravidade da situação», remata Mantero.

«O foco foi sempre na rapidez»

Pedro Dias, emigrante português que trabalha na sede europeia do Google, em Dublin, considera que a Irlanda respondeu rapidamente à crise. «Houve uma quebra acentuada no mercado de emprego, o que contribuiu para um aumento do número de pessoas desempregadas, reduções de salários e reformas prematuras. No entanto, nas grandes empresas que trabalham nos mercado online e internacional, a crise não se fez sentir com tanta intensidade», começa por dizer.

«Para além disso, a Irlanda sempre teve uma economia e meios de subsistência mais fortes que Portugal, o que transmite uma certa confiança às pessoas e reforça um pouco a confiança numa rápida recuperação», compara Pedro Dias, acrescentando: «Apesar de, como referi, as pessoas terem confiança na economia base da Irlanda, logo de início foi consenso público que a melhor maneira e mais rápida de dar a volta à situação seria através do FMI. Desde o início, o foco foi sempre na rapidez: rapidez em dar a volta à situação, aceitar a realidade e respectivas consequências de uma recuperação lenta.»

Aqui está, em suma, o que separa Portugal e República da Irlanda: a rapidez de resposta.

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