sexta-feira, 20 de maio de 2011

Liga irlandesa: Sp. Fingal, o espelho da crise



A liga irlandesa atingiu um estado de decrepitude nos últimos quatro anos. Vários clubes foram atingidos violentamente pela crise financeira e alguns deles foram forçados a fechar as portas. A aposta no profissionalismo tornou-se incomportável para instituições de frágil sustentação e orçamento exíguo. O passo mostrou ser maior do que a perna.

Um exemplo, em particular, chamou a atenção do Maisfutebol: o Sp. Fingal. Criado em 2007, este emblema chegou ao primeiro escalão em 2009 e alcançou de imediato um brilhante quarto lugar. Ganhou a Taça da Irlanda e o direito a participar na Liga Europa 2010/11. Pelo caminho encontrou o Marítimo. Perdeu ambos os jogos por 3-2.

Alguns meses depois fechou as portas. A ascensão e queda numa história tão curta. «O projecto acabou subitamente por dois motivos: os problemas financeiros do maior accionista e a desistência, em cima do início da liga, do principal patrocinador», explica ao nosso jornal John OBrien, antigo director-técnico do Sp. Fingal.

«A notícia foi devastadora e deixou-nos sem tempo para reagir. É uma pena pois o clube tinha propósitos únicos. Fomos o primeiro emblema fundado em cooperação com uma autoridade local [Fingal County Council], cobríamos uma área com mais de 250 mil habitantes (um recorde para a liga irlandês) e apostámos no futebol como meio de inclusão social. Para este último objectivo trabalhámos directamente com escolas, polícia e autoridades locais.»

O Sp. Fingal tinha tudo para dar certo. Não deu. Falhou redondamente, aliás, apesar das nobres intenções. «O sucesso desportivo chegou por acaso. O grande desafio era criar um largo número de programas sociais e beneficiar o maior número de pessoas possível com isso. Acreditávamos que seria esse trabalho a tornar o clube sustentável.»

«A liga está ao nível da II divisão portuguesa»

A liga irlandesa de futebol existe desde 1921. Esteve sempre na sombra das congéneres inglesa e escocesa. Ocupa actualmente o 31º lugar no ranking dos 53 campeonatos nacionais da Europa e tem, desde 2007, um tecto salarial para todos os jogadores. É, de resto, a primeira e única liga europeia com esta regra.

O clube mais titulado é o Shamrock Rovers, vencedor de 16 campeonatos. O Shelbourne (13), o Bohemians (11) e o Dundalk (9) são outras das equipas mais populares do país. O Shelbourne acumulou milhões de dívidas e está desde 2007 na segunda divisão, o Drogheda tem um défice de 800 mil euros, o Cork City acabou despromovido em 2010 no seguimento da rotura dos cofres e o Derry City foi expulso das provas do país em 2009 por ter falsificado certidões. A federação readmitiu, entretanto, o clube.

Antonio Mantero, treinador luso-irlandês nas camadas jovens do Lourdes Celtic, traça ao Maisfutebol um retrato desolador. «O nível do campeonato é muito fraco. Os melhores jogadores vão logo para Inglaterra. Nesta altura, quase todos os clubes estão em crise. O Bohemians também está numa situação muito difícil. Ia vender o seu estádio, onde ia ser construído um complexo residencial de luxo, mas a crise imobiliária chegou e o negócio foi por água abaixo. Agora podem mesmo fechar», explica o técnico.

Para Nuno das Neves, vice-presidente da Associação Portuguesa da Irlanda, a liga irlandesa tem «um nível muito fraco, ao nível da II Divisão portuguesa». «Eles preferem os desportos tipicamente irlandeses, como o futebol gaélico ou o Hurling, ou o râguebi.»

O emigrante explica ainda que «quase todos os irlandeses apoiam equipas inglesas do Norte, já que as de Londres estão associadas ao poder central». «Gostam muito do Liverpool, sobretudo, mas também do Man. United. Também gostam quase todos do Celtic, por questões religiosas.»

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