sexta-feira, 20 de maio de 2011

Walsh, o irlandês dragão: «Enchi a pista do aeroporto»



Coração irlandês num dragão da cabeça aos pés. Mike Walsh, antigo ponta-de-lança do F.C. Porto e ex-internacional da Rep. Irlanda. Para ele, naturalmente, a final de Dublin tem um sabor redobradamente especial. «É a melhor cidade europeia para se festejar a vitória do Porto. As pessoas são extremamente simpáticas e vão querer juntar-se a esta festa», diz Walsh, em entrevista ao Maisfutebol.

Para quem não se lembra, este irlandês representa o F.C. Porto entre 1980 e 1986, procedente de Blackpool, Everton e QPR. Participa, por exemplo, na primeira final europeia dos dragões. «O clube estava a crescer, já com o Pinto da Costa. Em 1984 chegámos à final da Taça das Taças», recorda, referindo-se ao polémico duelo com a Juventus.

«Joguei a última meia-hora em Basileia. Na fase final houve dois lances em que fomos prejudicados. Um penalty sobre o João Pinto não foi assinalado e o segundo golo da Juventus, marcado pelo Boniek, é precedido de falta. Ficámos tão doidos que o falecido Zé Beto ainda andou atrás do fiscal!»

Outros tempos. No banco não estava quem devia ter estado. «O senhor Pedroto já estava doente. Foi o António Morais comandar a equipa. Apesar da gravidade da doença [Pedroto faleceria oito meses depois] recebemos uma mensagem dele a dizer que estava tudo bem. Quis dar-nos força e tentou que não pensássemos no seu estado de saúde durante 90 minutos.»

Um golo decisivo em Donetsk

Essa campanha europeia de 1983/84, desaguada na Suíça, tem batalhas épicas. Dínamo Zagreb, Glasgow Rangers, Shakhtar Donetsk e Aberdeen caem aos pés do noviço dragão. Na Ucrânia a eliminatória é decidida por Mike Walsh, precisamente. Os adeptos do F.C. Porto começam a deleitar-se nos prazeres uefeiros.

«Se calhar foi o golo mais importante que fiz com a camisola do Porto. A equipa qualificou-se para as meias-finais e foi a loucura. Você não imagina», atira Walsh, quase a suspirar. «Veja bem. Fizemos uma viagem de Donetsk para o Porto com escala em Lisboa. Quando íamos aterrar em Pedras Rubras fomos avisados pelo comandante que teríamos de voltar para trás. Porquê? A pista do aeroporto foi invadida por milhares de adeptos. E a culpa foi minha!»

A primeira vez não acaba bem, mas há tempo para corrigir a curva da decepção. O Porto conquista Viena em 1987, Sevilha em 2003 e Gelsenkirchen em 2004. «Estive em todos os jogos, menos no primeiro. Quando o F.C. Porto ganhou ao Bayern eu jogava no Salgueiros e não pude ir à Áustria», justifica.

Em nome do pai: irlandês, claro

Mike Walsh é irlandês, sente-se irlandês, mas nasce em Inglaterra. Uma homenagem póstuma ao pai fá-lo optar pela Rep. Irlanda e é internacional 21 vezes. «O meu pai morreu antes de eu nascer. Era um irlandês dos bons e apaixonado pelo futebol. Quando comecei a ter alguma consciência das coisas prometi à minha mãe que um dia ia enchê-lo de orgulho. Acho que o consegui na tarde em que joguei pela primeira vez com a camisola da Irlanda.»

Em 1980 chega a Portugal para ser o sucessor de Gomes [entretanto vendido ao Sp. Gijon] e destaca-se pelo fortíssimo jogo de cabeça. Na terceira época de dragão ao peito faz 15 golos no campeonato, o seu melhor registo no nosso país. É duas vezes campeão nacional, ganha uma taça e quatro supertaças.

Apaixona-se pela cidade e mantém residência na zona de Miramar. Em Janeiro de 1985 é pai de quadrigémeos! «Todos sobreviveram e estão bem. Três raparigas e um rapaz. Vou com ele a Dublin apoiar o F.C. Porto. Tenho a certeza que vamos ganhar, mas atenção: os irlandeses têm um carinho especial por underdogs [equipas-surpresa] e vão puxar pelo Braga.»

Nenhum comentário:

Postar um comentário